Obeso tem organismo inflamado e pode sofrer Covid mais grave, como idosos 2021-08-21T15:39:52+00:00

Imprensa

Setembro de 2020

 

Obeso tem organismo inflamado e pode sofrer Covid mais grave, como idosos

Dr Cid Pitombo explica dados apontados em pesquisa feitas por pesquisadores da USP, publicado na revista Obesity Research & Clinical Practice.

Sobrepeso e obesidade são uma das maiores preocupações da medicina atualmente. Diversos estudos realizados com pacientes que contraíram a Covid-19 em todo o mundo comprovam que a doença pode se manifestar em sua forma mais grave, como ocorre em idosos, em indivíduos jovens e até mesmo sem qualquer doença como diabetes, hipertensão, problemas cardiovasculares, entre outras comorbidades. As causas vão de maior carga viral a outras complicações provocadas por gordura, açúcar, sal, entre outros, em excesso no organismo de quem está acima do peso normal.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) analisaram dados de nove pesquisas com 6.577 pacientes infectados pelo novo coronavírus na China, França, Espanha, Itália e nos Estados Unidos e mostraram que 9,4% dos obesos internados em UTI, em estado grave, morreram. O estudo do grupo coordenado por Silvia Sales-Peres foi publicado na revista Obesity Research & Clinical Practice.

Especialista em obesidade e cirurgia bariátrica, o médico Cid Pitombo explica que obesos mórbidos, com índice de massa corporal (IMC) acima de 45, têm 4 vezes mais chances de ir a óbito com a Covid-19 e obesos que não são mórbidos, com IMC a partir de 30, possuem 48% a mais de chance.  A probabilidade de um obeso precisar de internação é de 113%. E de chegar a ir para uma UTI é 74% maior nos obesos do que nas pessoas magras. Esses são os dados mais recentes das pesquisas que a USP comprovou.

“Obesidade é uma doença grave. Mesmo quem ainda não tem hipertensão ou diabetes, e possui boas taxas de colesterol ou triglicerídeo, por exemplo, tem que se preocupar. A gordura prejudica o bom funcionamento de vários órgãos, como rins, fígado, pulmão, coração, pâncreas. Eles trabalham no limite. O obeso não tem reservas. Quando pega um vírus forte, seus processos inflamatórios são mais severos e os órgãos não suportam”.

De acordo com o médico, o mais agravante é que obesos têm uma resposta imunológica muito mais lenta. Ou seja, as substâncias que poderiam atacar vírus, como anticorpos e outras, não são produzidas com a mesma velocidade e intensidade como nas pessoas mais magras. “No obeso, é tudo mais lento. Normalmente eles possuem mais açúcar no sangue, mesmo não sendo diabéticos. Algumas vacinas, por exemplo, não possuem a mesma eficácia neles porque não produzem a quantidade esperada de anticorpos. É o que acontece com a da gripe H1N1. Ainda não sabemos como será com a vacina da Covid. Mas temos esse temor”.

A gordura visceral, localizada na barriga, e que atinge muito os homens, é outra preocupação. “Essa gordura é muito prejudicial e chega a prejudicar o bom funcionamento do pulmão, rins, fígado, entre outros órgãos. “Muitos pacientes de Covid estão tendo que fazer hemodiálise nas UTIs porque os rins estão parando de funcionar de repente. A má oxigenação se reflete no corpo todo. Nesse momento, todos devem buscar o emagrecimento. E temos visto o contrário, as pessoas dentro de casa comendo mais do que o normal”, destaca o médico Cid Pitombo, que é também coordenador do Programa de Cirurgia Bariátrica do Estado do Rio de Janeiro, onde pacientes chegam a perder 100 quilos apenas com orientação nutricional adequada, antes mesmo de operar.

“O que nos preocupa mais ainda agora é que no período de isolamento, as pessoas engordaram mais pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas, doces, comidas industrializadas, fast-food, entre outras. E o problema foi acentuado pela menor perda calórica durante o confinamento e falta de atividades e exercícios físicos. Fora isso, obesos acham que podem flexibilizar, como os demais. Deveriam estar se resguardando”.

É hora de fazer bariátrica?

O médico esclarece que a cirurgia é uma decisão radical e não imediata. “É recomendada para pessoas com índice de massa corporal acima de 35. Esse índice calcula-se dividindo o peso pela altura ao quadrado, ou pessoas com IMC acima de 30, mas com doença grave, como diabetes. A cirurgia bariátrica hoje é muito segura, com percentual de complicações graves em torno de 1% apenas. Mas é nossa última recomendação. Operamos quando a pessoa realmente não consegue atingir os objetivos”.

Para o Dr Cid Pitombo, é hora de comer bem para perder peso. “A alimentação saudável é fundamental. Nem é preciso se preocupar tanto por não poder ir à academia agora. Mudar o que se ingere é o fundamental. Quem puder, pode complementar com caminhadas em áreas sem aglomerações. Ou usar uma esteira ou bicicleta em casa. Só não recomendo ir a academias ainda.  Me preocupo com os cuidados. Obesos não podem contrair a doença. Acredito até que o número de obesos infectados só não foi maior porque muitos deles estão desempregados, e puderam ficar confinados em casa. Numa pesquisa recente que fiz no Hospital Carlos Chagas, 70% deles estavam fora do mercado. Se todos os obesos estivessem nas ruas, a mortalidade teria sido mais alta”, esclarece o médico Cid Pitombo.