Dia Mundial da Obesidade 2022-03-29T19:05:00+00:00

Imprensa

Março de 2022

 

Obesidade e industrialização dos alimentos: ricos e pobres sofrendo desta epidemia

Muitas doenças estão relacionadas à obesidade, indo além do colesterol alto. Neste Dia Mundial da Obesidade, o médico Cid Pitombo, pesquisador do assunto há mais de 20 anos e responsável pelo tratamento dos também atores André Marques e Leandro Hassum, esclarece sobre os riscos de manter-se acima do peso por muitos anos

O Dia Mundial da Obesidade será celebrado em 2022 em 4 de março, próxima sexta-feira. O tema vem preocupando cada vez mais países pobres e ricos, já que essa doença se tornou uma epidemia, ou seja, um problema de saúde que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Hoje, existem mais obesos do que pessoas com pouco acesso a alimentos. A data marca o alerta para evitar o colapso dos sistemas de saúde em decorrência da obesidade.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 4 milhões de pessoas morrem a cada ano por causas relacionadas ao excesso de peso ou obesidade, de acordo com estimativas de 2017. E as taxas de sobrepeso e obesidade em crianças e adultos continuam a aumentar. Entre 1975 e 2016, a prevalência de sobrepeso ou obesidade em crianças e adolescentes de 5 a 19 anos mais que quadruplicou em todo o mundo, de 4% para 18%.

“Obesidade e sobrepeso, antes considerados problemas de países de alta renda, estão aumentando dramaticamente em países de baixa e média renda, especialmente em áreas urbanas.A grande maioria das crianças com sobrepeso ou obesidade vive em países em desenvolvimento. E o que leva a isso é a quantidade de produtos industrializados prontos com preços mais acessíveis do que os alimentos mais saudáveis. O que a população não sabe é a quantidade de gorduras, farinhas, partes de carnes menos nobres que são misturadas nesses alimentos. Um produto industrializado não sai mais barato à toa. Fora outros problemas que também podem provocar, como a hipertensão e o diabetes, pelo excesso de sal e de açúcar. Mas é sabido que apesar dos alimentos industrializados terem maiores efeitos danosos às crianças e adultos, precisamos deles, pois não temos alimentos orgânicos para todos. Temos então, de imediato, que chegar ao equilíbrio saudável nesses alimentos”, fala o médico e pesquisador Cid Pitombo, especializado em tratamentos para obesidade.­­

E esses hábitos ruins de alimentação e também de sedentarismo estão se perpetuando. Os filhos de pessoas acima do peso já estão nascendo com tendência a acumularem mais gordura corporal. A hereditariedade da obesidade está passando entre as gerações familiares.

“O que temos visto é uma aceleração muito acentuada da obesidade entre as crianças, porque elas já não tomam água, querem apenas mate e sucos de caixinha. Os jantares muitas vezes são substituídos por franguinhos prontos, macarrão instantâneo ou hambúrgueres com pão. As crianças não aceitam os legumes e verduras e os pais acham que não há o que fazer. Na lancheira da escola, vão biscoitos recheados e salgadinhos. Mas tentamos mostrar que dá, por exemplo, para colocar legumes batidos no caldo de feijão. Comer legumes e verduras é hábito, uma educação alimentar que começa cedo e deve se manter. Temos que insistir. Se a criança não gosta muito de frutas, mas só ofertamos frutas, ao invés de biscoito recheado, a criança acabara comendo a fruta”, defende o médico Cid Pitombo.

Estar obeso aumenta o risco do aparecimento de dezenas de doenças, não só articular, muscular, cardiológica, pulmonar, bem como uma diversidade de doenças metabólicas como diabetes, alteração do colesterol, doenças renais e muitos tipos de câncer. “E ainda temos as doenças psiquiátricas associadas, como depressão, isolamento social e até suicídio. Não estou afirmando que por ser obeso a pessoa está doente, assim como não falamos que por fumar, também está. O que estamos afirmando é que em ambas as situações aumentam a chance de obesos desenvolverem algumas doenças.

Doenças ligadas à obesidade – A diabetes é uma doença com maior relação com obesidade. O aumento da gordura, principalmente a visceral (dentro da barriga) leva à produção de substâncias que prejudicam a ação da insulina e da glicose. O aumento de peso tem uma relação direta no aumento da pressão arterial, distúrbios no metabolismo do colesterol e triglicerídeos. “Tudo isso leva a uma chance maior de infarto e desenvolvimento de doenças cardiovasculares associadas. As causas e a relação direta entre câncer e obesidade não são tão conhecidas como a do diabetes e doença cardiovascular. Mas em um encontro de especialistas em câncer em 2007 ficou claramente demonstrada a relação entre alguns tipos de câncer e obesidade, como câncer de pâncreas, pulmão, cólon, esôfago, mama, rim entre outros. E estudos envolvendo quase 60 mil obesos mostraram a clara relação entre obesidade e depressão”.

Já com relação à doença pulmonar, quando o obeso acumula muita gordura no abdome isso irá comprimir o diafragma, o músculo que divide o tórax do abdome. Com isso, comprime-se o pulmão e se dificulta a respiração. Além disso, o tórax fica menos flexível. Substâncias inflamatórias também são produzidas e atrapalham a função pulmonar, elevando a incidência de doenças como bronquite e asma. Um exemplo que comprava esse fato, foi a alta mortalidade de portadores de obesidade durante a epidemia do Covid-19.

“O obeso é um organismo delicado e que pode desenvolver distúrbios musculoesqueléticos. Difundir atividades físicas em obesos, sem a devida orientação, por exemplo, pode levá-lo a lesões. E estar fora do peso aumenta a incidência de doenças osteoarticulares. Cerca de um terço das cirurgias de próteses de joelho no mundo são em obesos e a grande maioria das de quadril também.

Cirurgia bariátrica – Muitas das pessoas com super obesidade, que não conseguiram chegar ao peso ideal com dietas, exercícios físicos e medicamentos recorrem à cirurgia bariátrica. A técnica, que hoje é muito mais simples, segura e menos invasiva, também vem sendo usada para promover uma resolução do diabetes tipo 2 em obesos que não chegam a ser considerados super obesos. Por meio de um equipamento chamado videolaparoscopia, em apenas 30 minutos de cirurgia, segundo o Dr Cid Pitombo, é possível separar uma pequena parte do estômago e outra do intestino por onde os alimentos continuarão passando. Assim, o paciente passa a ter menos espaço para armazenar alimentos e também produz menos hormônios que aumentam o apetite. Além disso, no intestino, absorve menos gorduras e por isso o emagrecimento acaba ocorrendo rapidamente quando se pratica a dieta equilibrada e saudável. Mas quem atinge o peso ideal após a cirurgia, pode voltar a comer de tudo um pouco, desde que respeite as quantidades permitidas, lembra o médico.

Os obesos muitas vezes precisam fazer acompanhamento com psicólogos para aprender a controlar melhor problemas como a ansiedade que os levam a consumir mais alimentos e até mesmo mais álcool. “Depois que emagrecem, eles querem aproveitar a vida e fazer coisas que já não faziam antes. Alguns extrapolam e acabam bebendo e comendo mais do que deveriam. O que leva parte deles a engordar de novo um pouco mais ou nem emagrecer tanto como poderia. Outros abandonam a atividade física. Eu ensino aos meus pacientes que a disciplina é fundamental. Nada na vida é fácil. Atingir metas sempre exige esforço constante. Mas em geral, os que deixam a obesidade no passado sentem-se muito felizes e recomeçam uma nova vida, sem preconceitos e limitações”, finaliza.

Perfil do especialista – O médico Cid Pitombo é especialista em tratamentos de obesidade e cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, tendo se tornado referência nacional em seu segmento de atuação, com 30 anos de experiência, sendo 22 com bariátricas. Ao longo de sua carreira, realizou cerca de 5,5 mil cirurgias. Entre elas, 3,5 mil foram pelo Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica do Estado do Rio de Janeiro entre 2010 e 2020, coordenado pelo médico. É proprietário da Clínica Cid Pitombo, onde realiza atendimento multidisciplinar para tratamento de obesidade, com acompanhamento psicológico e nutricional para cerca de 100 pacientes por mês, de todo o Brasil. Tornou-se ainda mais conhecido ao operar os atores André Marques e Leandro Hassum, que contribuíram fortemente para disseminar a importância da cirurgia bariátrica. Tem mestrado e doutorado em temas ligados a obesidade e é editor do livro Obesity Surgery: Principles and Practice. Mais informações podem ser obtidas pelo site da clínica.